manhattan’s gone, forever. Shh.

            Há uns tempos atrás fui assistir a uma palestra acerca do dadaísmo na faculdade de belas-artes, em Lisboa (Lisbon is a real place). Estava um Sol porreiro, estava lá um amigo meu à minha espera, e por curiosidade masculina também queria ver se as miúdas de belas-artes lived mesmo up to their name. Há um jardim podre, em ruínas de pedaços de ferro ferrugento nos andares de baixo, quem sabe encantado, mas antes disso entra-se pela porta principal e há muita pedra, estátuas a imitar o greco-romano, escadas em caracol e quase todas as luzes fundidas. Ao auditório tive que pagar  cinco euros e procurei o meu amigo (companheiro de armas, amante de bigodes todos, passatempos preferidos, fazer perguntas que só o diabo faria e ouvir a Antena 2 a partir da meia noite – quando entra em modo música contemporâneo-experimental), e sentei-me formulando o pensamento, Então é assim que são os professores de Belas-artes. Porqueé muito interessante pensar-se num artista pedagogo, porque esse pedagogo, porque universitário, tem que ser profundamente teórico – e arte e teoria, ou seja hermeticidade, estudo e pesquisa, não se coadunam muito com a ideia de um brilhante artista, que terá que minimamente ser para ensinar. Dos altifalantes estava a dar um pedaço (que não consegui identificar com precisão) do Metal Machine Music: “If you ever thought feedback was the best thing that ever happened to the guitar, well, Lou just got rid of the guitars. I realize that any idiot with the equipment could have made this album, including me, you or Lou. That’s one of the main reasons I like it so much. As with the Godz and Tangerine Dream, not only does it bring you closer to the artist, but someday, god willing, I may get to do my own Metal Machine Music. It’s all folk music, anyway”. Acrescento que o dadadísmo nos anos setenta era tão “real” quanto ver os Kiss ao vivo. Fuck that anyways, na altura os Kiss ainda nem sequer existiam. A puta do auditório inteiro estava a escutar atentamente, os professores incluídos, as faixas. “e agora, um pedaço de (qualquer coisa que já não me lembro) para compreendermos as diferenças”; trau, mais um pedaço de progr-bluegrass-rock com laivos de pop e Rn’B e batidas eletroclash (does that even existed to begin with? Oh the late nineties). Era belo, era majestoso, vomitei á frente do freak que tinha um cachecol mais caro que as minhas calças e as chaves de minha casa presas á orelha esquerda mais uma pena sintética, ri-me desaforadamente enquanto expulsava mais e mais, oh Deschamps, huum a masturbação silenciosa, meia hora depois levanto-me, estou mais leve de tanta transcendência (o almoço que já não tinha no estômago também ajudou) passei pelo jardim podre, a faculdade era uma mulher feia, porca e velha com lepra que soprava ar frio para me lixar a vida, quero um café e um cigarro por favor, disse depois no primeiro café, quando me encontrei na realidade outra vez, o mais despretensiosos possível.

1 comment so far

  1. Berhan on

    Quem dera aí estar para partilhar esse café e despretensiosicionalimentalizarmo-nos um pouco.


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